Flávio Augusto do Nascimento talvez fosse só mais um jogador de
futebol se não fosse o apelido e a estrela em jogos decisivos. Mas o
Caça-Rato, herói do acesso do Santa Cruz à Série B, leva consigo mais do
que a idolatria da torcida coral e a irreverência. Por trás do
folclore, há um ser humano que por muito pouco não estaria vivo para
curtir o êxtase de ouvir 60 mil gritando seu nome no Arruda, graças a um
gol de cabeça que nem ele viu direito.
- Não cheguei nem a ver a
bola entrar. Só ouvi todo mundo gritando e aí saí correndo igual a um
louco. Passou muita coisa na cabeça, um filme. A ficha ainda não caiu .
O "longametragem" ao qual Caça-Rato se referiu teve início na
periferia de Recife, em 1986, e passou um bom tempo contando o ano de
2010, quando o jogador que tinha deixado recentemente o América-RN levou
dois tiros - um na perna e outro nas costas - durante uma festa.
-
Pensei nisso depois do gol, por tudo o que passei. Aquela situação foi
muito difícil, ainda mais porque minha esposa estava grávida. Foi
durante uma festa, um rapaz me viu com um cordão, ele queria pegar e aí
aconteceu uma discussão. Mas consegui passar por isso - complementou o
jogador.
Mas nem só de tristeza vive Caça-Rato. Muito pelo
contrário. O irreverente e brincalhão atacante tem uma relação de
carinho com o apelido inusitado. Mas, afinal, de onde veio esse nome?
-
Veio da época da base do Sport. Tinha 13 anos e tinha medo de jogar com
os caras mais velhos, porque eles me batiam muito. Então eu ficava na
beira do campo caçando rato. Aí pegou.
E o curioso é que o apelido
de tanto sucesso no Santa Cruz teve resistência da diretoria. Mas o
nome Flávio Recife, escolhido como substituto, não pegou.
- Quando
eu cheguei, o presidente chegou para mim e disse que tinha que mudar,
porque o Caça-Rato pegava mal. Mas no primeiro jogo fiz um gol e aí foi
ficando. Acho que, independente do nome, o importante é mostrar trabalho
dentro de campo. Não tenho do que reclamar desse apelido (risos) -
relata o jogador, que também é alvo de brincadeiras da torcida por ter
as mesmas iniciais de Cristiano Ronaldo:
- Achei legal essa de ser o CR7. Pô, o cara é meu ídolo. Chegar perto dele só no nome está bom demais!
Flávio Caça-Rato vive seu melhor ano na carreira e agora está colhendo os louros do trabalho.
-
Tive dois momentos especiais neste ano. Pude fazer o gol do acesso e do
título pernambucano. O engraçado é que até comemorar os dois fiquei
muito nervoso, porque, no Estadual, fui expulso logo depois do gol.
Contra o Betim, o time levou o empate logo depois de eu entrar. Mas
agora está tudo muito bom. Estou até agora comemorando com a família.
Vou para buffet e nem estou precisando pagar - brinca ele, já traçando
planos para o futuro:
- Tenho que continuar trabalhando. Já fui a
muito jogo do Santa quando era criança e hoje eu tenho a oportunidade de
jogar aqui. Para jogar no Santa, tem que ter coração. Sempre quis
ajudar e por isso está dando certo.
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