Quando o grandalhão Muserskiy mandou sua pancada e fechou o segundo
set, o mais otimista dos brasileiros poderia pensar em um roteiro
olímpico às avessas. Se durante toda a semana a palavra “revanche” foi
desprezada, o desespero a fez reviver. Àquela altura, o sonho de
devolver a virada da final em Londres era a chance derradeira de evitar
um novo desgosto. A realidade, porém, logo puxou qualquer devaneio de
encontro à quadra do ginásio de Mar del Plata. Uma noite que poderia ser
da afirmação se transformou em mais um pesadelo. Dominado, o Brasil
voltou a cair diante de uma Rússia impiedosa na decisão da Liga Mundial.
Não deu nem para respirar: um 3 a 0 seco, com as parciais 25/23, 25/19 e
25/19. Os campeões olímpicos, então, reafirmam sua soberania no vôlei
mundial.
- Os russos jogaram muito bem, isso é fato. Sacaram bem e defenderam
bem a bola. Fomos dominados por uma equipe que mostrou diferencial em
alguns fundamentos - admitiu o técnico Bernardinho logo após a partida.
Foi o primeiro revés do Brasil por 3 sets a 0 em uma final de Liga
Mundial. A seleção, que lutava por seu décimo título, teve de se
contentar com seu quarto vice-campeonato. A Rússia levanta pela terceira
vez o troféu da competição.A equipe de Bernardinho fechou a final com 61 pontos no jogo. O ataque,
porém, não funcionou. Do total, 26 foram dados de graça pela Rússia.
Lucarelli fez oito, enquanto Wallace, tão bem nas partidas anteriores,
marcou apenas seis vezes. O oposto Nikolay Pavlov se apresentou como
mais um carrasco do lado de lá: 22 pontos. Evgeny Sivozhelez fez 14,
enquanto Muserskiy pontuou 11 vezes.
Brasil abre 5/0, mas cai sem perdão
Tudo começou fácil demais para o Brasil. E sem grande esforço. A Rússia
entrou em quadra com um nervosismo fora do normal. Tanto que o Brasil
abriu 5 a 0 com facilidade, ganhando quatro pontos de graça dos rivais e
fazendo apenas um, em bloqueio de Isac. Mas não havia dúvidas de que
não seria assim tão simples. Ainda que os russos errassem mais, a equipe
de Bernardinho não estava bem e logo permitiu que a vantagem virasse
pó.
Quando Dante ficou no bloqueio, a Rússia passou à frente pela primeira
vez: 10/9. Os brasileiros acusaram o golpe. A seleção parecia sentir a
falta dos ataques de Wallace, que não marcara nenhum ponto até então.
Mas, ainda assim, a equipe de Bernardinho conseguiu buscar a diferença
em um primeiro momento. Chegou, inclusive, a deixar tudo igual (22/22).
Mas não foi suficiente. Os russos retomaram a dianteira e fecharam o set
em um erro de Lucarelli: 25/23.
Os erros seguiram pautando o jogo. Apalikov mandou seu saque para fora,
mas o Brasil respondeu da mesma forma com Isac. Dante, na sequência,
atacou mal, e a Rússia largou na frente. Spiridonov subiu à rede e
soltou o braço, fazendo sua seleção marcar 6/2. O Tintim russo controlou
a provocação, mas não segurou na hora de comemorar. Os campeões
olímpicos mantiveram o ritmo e chegaram ao primeiro tempo técnico em
vantagem: 8/5.
Na arquibancada, um grupo de brasileiros gritava: “Gigante, gigante”,
na tentativa de acordar a seleção. Não faltava esforço, mas sobravam os
erros. Quando encostava no placar, o time pecava em ataques simples e
permitia que a Rússia voltasse a disparar. Muserskiy subiu sozinho no
meio e soltou o braço: 18/12. Logo depois, Pavlov voou mais uma vez, sem
defesa do outro lado.
A cada ponto próprio, a seleção tentava puxar o ânimo. Mas a Rússia se
mostrava segura demais para voltar a errar. Quando o ataque de
Sivozhelez resvalou no bloqueio de Isac, Bernardinho pediu tempo. Na
reserva, Lipe pedia que a equipe reagisse. No último ponto, Lucarelli
conseguiu devolver uma bola com o peito, mas, na sequência, Muserskiy
subiu sem piedade para fechar: 25/19.
A esperança clamava por uma revanche na mesma moeda. Mas, enquanto
sonhava, o Brasil foi acordado de forma brusca. Bernardinho tirou
Wallace, que não conseguia repetir as boas atuações anteriores, e mandou
Vissotto - às voltas com um edema no joelho direito - à quadra. Os
ataques, porém, cismavam em não cair. A Rússia mostrava força, mas,
acima de tudo, dava uma aula de frieza. Esqueça as provocações de
Spiridonov: elas não existiram. Para derrubar a seleção brasileira, os
campeões olímpicos jogaram bola.
Enquanto o Brasil fazia o possível para se reerguer, a Rússia atacava
sem um sorriso no rosto. E, assim, foi construindo uma vitória com uma
facilidade inesperada. Abriu 9/3 sem dó. E nem adiantava tentar buscar.
Na noite deste domingo, a festa já estava pronta do outro lado. Pavlov
soltou o braço e, enfim, os russos festejaram: 25/19, e título
garantido.
EQUIPES
BRASIL - Bruno, Wallace, Isac, Lucão, Dante e Lucarelli. Líbero - Mário Jr.
Entraram - Leandro Vissotto, William e Maurício
Técnico: Bernardinho
RÚSSIA - Apalikov, Grankin, Sivozhelez, Pavlov, Spiridonov e Muserskiy. Líbero - Verbov
Entraram - Mikhaylov e Zhilin
Técnico: Andrey Voronkov