Para ela, a vida (re) começa aos trinta. Aos 29 anos, Daiane dos Santos
tem uma certeza: só vai competir até o fim do ano, porque está no
contrato com o clube Pinheiros. Já as dúvidas são muitas. A ginasta
ainda não sabe o que virá pela frente a partir de 2013. Depois de anos
encantando o mundo com suas piruetas, será hora de a “brasileirinha”
cravar o pé bem no chão e engatinhar numa nova carreira.
- Vou ter que descobrir o que eu faço além da ginástica. No ano que
vem, estou desempregada - brincou a ginasta ao dar adeus às últimas
Olimpíadas da carreira.
Para Sidney-2000, Daiane viajou como reserva. Competiu em três Jogos:
Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. Neste domingo, a ginasta que se
consagrou ao ritmo do chorinho arrancou muitos aplausos na Arena de
North Greenwich, com uma apresentação embalada por um samba com batidas
eletrônicas. No fim da exibição, satisfeita, ela até deu uma sambadinha
para comemorar, mas não havia feito o suficiente para ser uma das oito
finalistas do solo. Ficou em 17° lugar. Por equipes, o Brasil também não
conseguiu se classificar para as finais, encerrando na 12ª posição.
- Ter começado a competição no primeiro grupo não foi bom para a gente. As notas são sempre mais baixas - afirmou.
Daiane acha que os juízes começaram rigorosos demais e que merecia uma
pontuação mais elevada, mas não quer remoer a história. Nada de chororô.
Leve, mesmo sem ter conquistado a sonhada medalha olímpica, ela insiste
que encerra o ciclo de cabeça erguida, com a sensação de dever
cumprido.
- O que eu queria era fazer o meu máximo e eu fiz o meu máximo. Nem saí
do solo... - ironizou, numa referência ao desempenho dela nas
Olimpíadas de Atenas e de Pequim, quando pisou fora do tablado e perdeu a
chance de conquistar a medalha inédita.
Em um passeio pelos arredores da Vila Olímpica, Daiane é parada
diversas vezes. Muitos pedem para tirar fotos. Quase 10 anos depois de
ter se tornado a primeira brasileira campeã mundial de ginástica, ela
segue ouvindo referências ao “Brasileirinho” - a coreografia com a qual
encantou o público e inspirou uma geração.
- O brasileiro aprendeu que não tem só futebol no Brasil. Tem vôlei,
natação, e a ginástica também está ganhando o seu espaço - disse talvez a
principal responsável por isso.
Daiane não mudou o esporte apenas dentro do país. Escreveu seu nome
também na história da ginástica mundial ao criar dois movimentos que
foram batizados em sua homenagem: “dos Santos I” (o duplo twist carpado)
e “dos Santos II” (o duplo twist esticado). Agora, é hora de se
despedir. Sabe que vai deixar saudades, mas garante: repensar a
aposentadoria é algo fora de cogitação.
- 2016? Sem chance. Esquece. Em 2016, eu quero estar com as meninas de
outra forma. Só não sei ainda como - afirmou Daiane, lembrando que é
formada em Educação Física
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