Quando saiu do Brasil rumo a Londres, a pequena Sarah Menezes
carregava expectativas desproporcionais para seu tamanho. Lutadora mais
leve da seleção de judô, a peso-ligeiro, de apenas 1,52m e 48kg, era a
grande esperança de primeira final olímpica do Brasil entre mulheres na
história da modalidade. A piauiense, porém, foi além: com a vitória
neste sábado sobre a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim
2008, Sarah entrou para a história como a primeira mulher brasileira a
conquistar uma medalha de ouro no judô nas Olimpíadas.
A luta começou com muito estudo. As duas mediam a distância na briga
por pegada. Sarah foi a primeira a tentar uma entrada, bem defendida por
Dumitru, que aparentava sentir o braço direito. A romena começou a
girar mais para tentar evitar que a brasileira a atacasse. Com pouco
menos de quatro minutos restando, Sarah quase conseguiu uma queda.
Dumitru defendeu, mas a brasileira atacou no solo, chegando perto de
encaixar uma chave de braço. Uma vez que percebeu que o caminho era por
ali, a piauiense atacou novamente o braço, e conseguiu um shido
(advertência) contra a romena.
Ciente que poderia perder a luta com nova advertência, Dumitru passou a
ser mais incisiva e foi com tudo para um golpe de quadril, que quase
entrou. A romena assustou com uma técnica de pé, mas Sarah contragolpeou
e conseguiu um yuko, abrindo 1 a 0 de vantagem. Os últimos 18s pareciam
que seriam de tensão, mas Sarah atacou e conseguiu um wazari para
assegurar o ouro. Ela ainda foi para o estrangulamento antes de o
cronômetro zerar. Um wazari e um yuko a zero para Sarah Menezes,
primeira judoca campeã olímpica do Brasil.
Ouro carregado de significados especiais
O ouro de Sarah foi carregado de significados diversos. Foi o primeiro
ouro do Brasil em Londres 2012, logo no primeiro dia oficial de
disputas; o primeiro ouro do judô em 20 anos, desde que Rogério Sampaio,
atleta peso-meio-leve, foi campeão olímpico em Barcelona 1992; e a 16ª
medalha do judô em Olimpíadas, tornando a modalidade, provisoriamente,
na mais vencedora entre todas as do Brasil na história dos Jogos,
superando a vela, que acumula 15 medalhas.
Não foi uma surpresa e sim o resultado de um processo de crescimento em
público. Aos 18 anos, Sarah Menezes foi campeã mundial júnior, em
Amsterdã, na Holanda, e se tornou automaticamente a grande esperança da
modalidade. Naquele mesmo ano, estreou em Olimpíadas, em Pequim 2008, e
caiu logo na primeira luta. Em 2009, conquistou o bicampeonato júnior,
foi eleita Atleta do Ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e iniciou
sua escalada entre os adultos. Em 2010, foi medalha de bronze no
Mundial de Tóquio; dois anos depois, chegou à prata no Mundial de Paris.
Durante os quatro anos do ciclo olímpico, colecionou ouros em etapas de
Grand Slam, Grand Prix e Copa do Mundo, sem jamais deixar os
treinamentos em Teresina, no Piauí, sua casa, onde serve de ídolo para
milhares de crianças e é tema até de forró.
Em Londres, a adversária mais temida era a japonesa Tomoko Fukumi,
primeira colocada do ranking mundial, a qual jamais havia derrotado em
quatro combates. A algoz, todavia, caiu pelo caminho para a romena Alina
Dumitru. Campeã em Pequim 2008, Dumitru merecia respeito, mas era um
confronto mais favorável: de cinco duelos entre as duas, Sarah havia
vencido três, justamente os três mais recentes. A superioridade da
piauiense ficou clara no tatame de Londres.
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