O UFC 155, que aconteceu no dia 29 de dezembro de 2012, representou
para muitos o fim de um ciclo. De fato, o reinado de Junior Cigano nos
pesos pesados do evento foi interrompido por Cain Velásquez quando o
americano o derrotou na decisão dos juízes. Mas, para o brasileiro,
naquela dia se iniciou o começo de uma nova vida.
Engatinhando e reaprendendo a caminhar adiante, Cigano falou com exclusividade
sobre o momento que vive e a dificuldade de olhar para o futuro sem
poder contar com o final de dois relacionamentos importantes na sua
vida: aquele que ele tem com sua mulher, Vilsana Picozzi, e aquele que
ele tinha com o cinturão do UFC.
-
Estou sentindo muita falta dele. Estava sendo muito especial ser o
número um do mundo no meu esporte. Perdi isso e quero de volta logo.
Estou sentindo muita saudade do cinturão. Já dormi algumas vezes com ele
(risos). Tenho certeza de que ele está sentindo saudade de mim também e
está louco para voltar para as minhas mãos. Vou trabalhar duro para
fazer isso acontecer - afirmou o ex-campeão, se referindo ao bem
inseparável que agora pertence a Velásquez.
Se o cinturão foi
tirado das mãs do lutador, o laço entre Cigano e Vilsana, que durou mais
de dez anos, foi quebrado por ele mesmo. A decisão foi tomada antes da
disputa de cinturão. Apesar de afirmar que ''durante a luta estava com a
cabeça voando'' por conta de problemas pessoais, o atleta garante que
seu desempenho não foi afetado pela decisão do casal de se separar.
-
Realmente não estamos mais casados. Não tem ninguém mais importante do
que Vilsana na minha vida. Ela cuida de mim e da minha carreira. E ainda
é assim. Eu quero que sempre seja. A gente não está mais casado, pois
foi uma opção nossa. Não influenciou nada de cabeça. O problema da luta
são coisas que temos na vida, para resolver. Nada sério. Vilsana ainda
mora comigo, ela é muito especial para mim. Eu cuido dela e ela cuida de
mim - se declarou.
O que aconteceu com você na luta contra o Cain Velásquez?
Fisicamente,
estava muito bem. Mas fiquei cansado demais na luta. Não conseguia me
defender, fazer nada. Sempre que acabava um round, eu pensava que o
próximo seria melhor. Quando começava, era igual. Não conseguia lutar. É
inexplicável. Eu não consigo explicar. Assisto a luta e fico com muita
raiva de mim mesmo por não reagir a coisas normais na academia. Foi bem
complicado. A gente sempre tem problemas. Consigo sempre deixa para
fora. Mas dessa vez... Depois da luta, fiz alguns testes. Meu nível de
creatina estava elevado. O normal é de 20 a 300. O meu estava 1.400.
Acabou resultando numa quebra de músculo. É uma perda de músculo. Isso
foi um overtraining (excesso de treinos). Deu nisso. Me senti muito bem
ao entrar, mas na hora a cabeça ficava voando. Dórea disse que falava
comigo e eu ficava viajando. Eu não estava lá, parece...
Como você recebe as acusações de que ''entregou a luta''?
Eu
recebo com muita tristeza. Principalmente pelos comentários virem do
Brasil. isso me deixa bem triste. As pessoas tem tendência a serem
negativas com os outros. Rebaixar. Acho que eu tento não dar atenção a
esse tipo de coisa, esse tipo de gente. É impressionante o quanto eu me
senti feliz com a quantidade de pessoas que tem falando comigo nas redes
sociais e nas ruas, pessoalmente. Esses dias, uma senhora veio até mim e
falou: "Cigano, eu quero te dar um beijo e um abraço. Eu sou muito sua
fã". Na hora eu disse: "Nossa, que surpresa boa". Ela virou e falou:
"Espero não estar incomodando". Eu ri: "Incomodando como? Você está me
jogando para cima. Me fortalecendo. Obrigado". Então, estou vendo quanto
carinho os outros tem por mim também.
Como foram os dias depois da luta?
Foram
complicados. Fiquei mais em casa. Até por estar ainda inchado da luta e
também estava muito triste com o resultado. Não por ter perdido. Cain
teve o mértito dele, fez o trabalho muito bem feito. Minha tristeza foi
da minha falta de atitude. Não era eu lutando ali. Não mostrei nada do
que normalmente eu faço. Só segui e tentei me defender. Fiquei muito
triste com o resultado. Mas agora as coisas vão passando e depois que
cheguei em casa pude pensar melhor e transformar minha tristeza em
vontade de vitória de novo.
Qual o aprendizado que você leva com essa derrota?
Aprendi
muito e ainda estou aprendendo. Cada vez nos aprofundamos mais nas
lições. Não só como profissional, mas também como pessoa. Acho que muita
coisa terei de cuidar e ser mais profissional no meu treinamento e
cuidar de uma forma melhor. Precisamos de um acompanhamento melhor de
profissionais. Médico, técnico, nutricionista. Estou abrindo mais os
olhos para cuidar de mim mesmo como lutador.
Quando veremos você lutando novamente?
Estou
esperando os resultados de alguns exames que eu fiz para voltar logo a
treinar. Só para ver se está tudo bem. Estou esperando o resultado e o
aval do médico. Já falei com o pessoal do UFC que eu quero superar essa
situação, mostrar quem eu sou. Quero ir para a revanche contra o
Velásquez independente de cinturão. Ganhei uma, ele ganhou a outra,
então nada mais justo do que ter a terceira. Claro que talvez tenha de
fazer algumas lutas antes, mas estou aqui para isso mesmo.
Qual a mensagem você gostaria de deixar para os fãs que sofreram com a sua luta?
Vemos
frases de motivação o tempo todo. Viver a situação como estou vivendo
tem um sabor muito amargo. Estou aprendendo. A minha vida foi feita
disso. De superação e sempre acreditar num futuro melhor. Meu futuro
será melhor ainda do que agora. Vou aprender mais e me dedicar cada vez
mais. Não só para honrar a torcida das pessoas, mas para fazerem eles
orgulhosos por acreditarem em mim. Darei a volta por cima. Farei de tudo
para não deixar ninguém nunca mais sofrer.
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