Um padrão na estratégia dos clubes brasileiros para buscar contratações
ainda está sendo moldado. Há casos e casos - ou acasos. Mas a verdade é
uma só: o futebol do país vive uma nova era. E o Corinthians representa
bem esse apetite renovado dos clubes brasileiros no mercado. No ranking
das cinco maiores contratações da história do futebol brasileiro, o
Timão figura em quatro primeiras posições, sendo a compra de Alexandre
Pato, ex-Milan, a segunda maior delas. O clube paulista desembolsou € 15
milhões (pouco mais de R$ 40,2 milhões, ou US$ 19,7 milhões) para ter o
jogador, de 23 anos, a partir desta temporada. Tevez, no fim de 2004, foi o único mais caro - US$ 22 milhões, ou R$ 60,5 mi à época. Nilmar e Mascherano, que a exemplo de Carlitos foram garantidos com dinheiro da MSI, entre 2005 e 2006, também figuram no Top 5.
Nos últimos oito anos, as contratações pomposas dos clubes locais fazem
parte de um processo de mudança de rumos do futebol brasileiro, que
deixou de ser simplesmente um mero exportador de talentos para investir
em reforços de peso. O Corinthians, baseado primeiramente no dinheiro
fruto da polêmica parceria com o MSI, e agora com recursos próprios,
após investimento em sua imagem, que começou com a contratação de
Ronaldo, é o pioneiro nesta nova fase.
De acordo com Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva, o
segredo da notável vantagem do Timão no mercado é o bom proveito das
receitas oriundas dos contratos de TV.
- O marketing está sendo mais bem explorado, além de programa de
sócio-torcedor e sistema de venda de ingressos mais acessível. Mas o
principal de tudo é a receita vinda da TV. Tudo isso começa a tornar o
mercado importador. Por que o Corinthians pode contratar o Pato? Porque
tem um contrato com a TV bem maior do que a maioria dos clubes
brasileiros. O Flamengo poderia investir de forma parecida se não
tivesse boa parte desta receita comprometida por dívidas.
O valor pago pela diretoria do Corinthians para repatriar Alexandre
Pato fica próximo daquele que o empresário iraniano Kia Joorabchian
desembolsou por Carlitos Tevez. Para tirar o argentino do Boca Juniors,
ele gastou US$ 22 milhões (R$ 60,5 milhões, considerando o câmbio da
época). Por Pato, o Timão pagou quase US$ 20 milhões, mais de R$ 40 mi
pelo câmbio atual. Nilmar e Mascherano foram adquiridos junto a Lyon-FRA
e River Plate-ARG por US$ 12,5 milhões (R$ 27,8 mi na ocasião) e US$
9,6 milhões (R$ 25 mi, em 2005), respectivamente.
- O Corinthians tinha um potencial mal explorado até a chegada do MSI. A
parceria teve coisas boas e alguns problemas. O maior deles foi o
rebaixamento. Depois disso, com sua torcida gigantesca, o Corinthians
soube explorar melhor a sua marca. Imagine se o Flamengo contratasse o
Ronaldo. Talvez estivesse colhendo tudo que o Corinthians conseguiu. O
Flamengo é um gigante adormecido, que não tem feito valer o poder de
mercado que tem. Um jogador pode fazer total diferença na vida
financeira de um clube. O Ronaldo viu no Corinthians uma oportunidade
que não teve no Flamengo, mesmo sendo flamenguista - disse Somoggi.
Após a saída do fundo de investimentos MSI, o cenário não poderia ser
pior para o Corinthians no fim de 2007. O time estava rebaixado para a
Série B do Campeonato Brasileiro e ainda vivia sob o bombardeio de
críticas em virtude da estranha associação com a antiga parceira e Kia. O
futuro parecia cinzento, se comparado ao dos maiores rivais.
O Corinthians estava mergulhado no fundo do poço, mas teve a sorte de
contar com a competência de um grupo de pessoas que conseguiu
capitalizar essa paixão de forma a impulsionar o clube de volta ao
sucesso. Caminho simbolizado pela chegada de Ronaldo. O Fenômeno fez
explodir a receita e deu credibilidade internacional ao Corinthians. O
resultado se revelou em títulos, especialmente a inédita conquista da
Copa Libertadores e do bicampeonato mundial no ano passado, já sem o
craque em campo.
- Estamos vivendo uma nova era. Passamos a vida inteira dizendo que os
clubes tinham que vender jogador para sobreviver e agora as coisas
mudaram. Os clubes perceberam isso de 2008 para cá e no ano seguinte com
o efeito Ronaldo no Corinthians. É por isso que estamos repatriando
vários atletas, como Pato.
Reforço do Corinthians para 2013, Alexandre Pato desembarca no Brasil
com um preocupante histórico de lesões: foram 16 em seis temporadas pelo
Milan.
Pelo clube italiano, Pato disputou 150 jogos, marcou 63 gols e
conquistou apenas dois títulos. Para Amir Somoggi, o acordo entre o
jogador e o clube paulista é bastante temeroso.
- A contratação do Pato é uma atitude de risco. Mesmo que ele renda em
campo, talvez ele não consiga pagar a conta. Por mais que consiga vender
camisas e que os estádios continuem cheios, é um investimento muito
alto (R$ 40 milhões por 60% dos direitos). Tem que usar o jogador para
alavancar receita, exatamente como fez com o Ronaldo, que trazia muito
mais visibilidade - concluiu.
O São Paulo é o único clube a se intrometer no domínio corintiano nas
grandes contratações do país. A chegada de Ganso (em setembro do ano
passado) é a quarta maior contratação da história do futebol brasileiro:
US$ 11,8 milhões, ou R$ 23,9 milhões.
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